Educação

Estudantes ocupam o Campus 2 da UFPel

Ação foi tomada após bloqueios de contas que impactam diretamente no pagamento de bolsas, inclusive de pós-graduação e médicos residentes

Foto: Carlos Queiroz - DP - Grupo busca organizar pautas e ações para chamar atenção aos bloqueios de recursos da universidade

Por Lucas Kurz
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Na noite da última terça-feira, estudantes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ocuparam a estrutura do Campus 2, localizado na rua Almirante Barroso, como maneira de chamar atenção aos bloqueios de contas da educação por parte do governo federal. Nesta quarta-feira (7), no primeiro dia de organização, uma assembleia, contando com presença da gestão da instituição, buscava organizar as pautas e ações dos coletivos integrantes do ato.

O Diário Popular teve acesso à ocupação e conversou com diversos estudantes e lideranças. Durante as explicações da assembleia, os motivos citados foram as dificuldades que serão enfrentadas, já que mais de quatro mil bolsas ficarão sem ser repassadas devido ao bloqueio das contas. Foi criticada ainda a falta de sensibilidade e de explicações por parte do governo federal. Os terceirizados também foram citados, já que, sem os valores para pagar as empresas, eles podem ficar sem receber salários. Os coletivos também mencionaram o impacto que isso causa diretamente na economia de Pelotas, já que não ocorre o depósito para alimentação e pagamento de aluguéis, por exemplo.

A aluna Bianca Oliveira da Silva, do curso de Teatro, foi uma das que se pronunciaram. Em conversa com o DP, ela citou que depende dos auxílios moradia e alimentação. Ela explica que o primeiro momento da ocupação busca compreender tudo o que está acontecendo e definir com calma as estratégias. "É entender o que iremos fazer, de maneira conjunta, para conseguir barrar ou mudar as decisões que foram tomadas pelo governo federal." Segundo ela, o ato tem o objetivo de demonstrar à comunidade as dificuldades passadas por estudantes com a sequência de cortes e bloqueios de recursos na educação, afetando agora as pessoas que já estavam em vulnerabilidade social.

Bianca conta que há um temor coletivo e a mobilização também serve como acolhimento aos colegas. Uma agenda de oficinas e de explicações do trabalho universitário, bem como o impacto dos cortes, está sendo organizada pelos manifestantes, estando abertas à comunidade. A programação estará disponível no Instagram @ocupaufpel. Doações e sugestões estão sendo aceitas, assim como um Pix para receber valores para ajudar os alunos impactados pelo corte. O Campus II ficará aberto ao público das 7h às 22h.

Pós-graduação também sofre impacto
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) emitiu nota informando que também não terá recursos para pagar as bolsas de pós-graduação. Com isso, o número de alunos e pesquisadores afetados aumenta, incluindo médicos residentes dos Hospitais-Escola.

Entre estudantes de graduação e pós, há um temor coletivo. Segundo Murilo de Lima Chaves, porto-alegrense da História, diz que depende de auxílio moradia, alimentação, transporte e recebe uma bolsa por ser tutor. "Quando a gente acorda com a notícia de que não vai haver mais dinheiro para os auxílios, a gente se pergunta justamente como vai pagar o aluguel, se não vai ser despejado (...) afeta a nossa saúde mental, sobretudo no fim do semestre. É uma situação desesperadora", lamenta. Ele diz que seus pais estão se sentindo impotentes com a situação. Atrasado desde terça-feira, o aluguel dele já está pendente de juros.

Gestão se pronuncia
A reitora Isabela Andrade diz que a ação dos estudantes é tranquila e motivada exclusivamente pelo bloqueio financeiro. A gestão foi até o local, conversou com os alunos, explicou a situação e garantiu que o compromisso com a assistência estudantil será prioritário quando houver dinheiro em conta.

Ao longo da tarde de ontem, os reitores das instituições federais de ensino conversaram com a Defensoria Pública da União (DPU) e, segundo ela, o órgão ficou de conversar com o Ministério Público e também questionar os Ministérios da Educação e Economia. "A pauta principal, que tanto a Defensoria quanto o Ministério Público vão defender, é a questão dos estudantes não terem recebido o auxílio e também o pagamento das bolsas", explica.

Já a titular da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), Rosane Brandão, disse que a gestão está apoiando a manifestação, mantendo serviços de portaria e vigilância. "A gente entende como uma manifestação legítima da parte deles", aponta. Segundo ela, a criação do Comitê de Crise por parte da universidade, que já contou com diversas reuniões, é o primeiro passo para tentar reverter.

Na manhã de ontem, foram recebidos por representantes de imobiliárias, para explicar a razão dos potenciais atrasos de mais de 700 aluguéis. Segundo Rosane, a discussão foi com um tom de compreensão. O auxílio é de R$ 500. A pró-reitora aponta que diversos alunos têm procurado a Prae em tom de desespero. "O receio deles é que isso vire uma bola de neve (...) ainda que eles saibam que em algum momento vão receber retroativamente, não sabem quando", lamenta.

A gestão da UFPel, em conjunto com o IFSul, tenta, para os próximos dias, agenda com o governador Ranolfo Vieira Jr. (PSDB), bem como audiência pública na Câmara de Vereadores e na Assembleia Legislativa. Na terça, eles foram recebidos pela prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), que se manifestou em um tweet lamentando os bloqueios e os cerca de R$ 15 milhões que deixam de circular na economia da cidade em um momento de fim de ano.​

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